sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O Mandamento de Fazer Díscipulos

René Padilla

Na Grande Comissão (Mt 28.16-20), a afirmação da autoridade universal do Senhor Jesus Cristo precede a definição da missão da igreja representada pelos onze discípulos que o rodeavam naquele momento: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (v. 18b-20a). Fica claro neste texto que o senhorio universal de Jesus Cristo é a base da missão universal da igreja.

Essa missão se resume no mandamento: “fazei discípulos”. Curiosamente, para expressar essa ideia, o Evangelho Segundo Mateus usa o verbo “matheteúsate”, que, no Novo Testamento, aparece apenas quatro vezes: três delas nesse Evangelho (13.52; 27.57; 28.19) e uma em Atos (14.21). Em contraste com o verbo “matheteuein”, o substantivo “discípulo” (“mathetes”) é comum nos Evangelhos e em Atos, porém não é encontrado em nenhum outro livro do Novo Testamento. Tal expressão é característica nos Evangelhos para referir-se aos seguidores de Jesus Cristo: aparece 73 vezes em Mateus, 46 vezes em Marcos e 37 vezes em Lucas.

Para entender devidamente o sentido do mandamento é indispensável prestar atenção em um detalhe gramatical que nem sempre é levado em consideração: no texto grego, “matheteúsate” é o único verbo no modo imperativo. As outras três formas verbais ligadas a este verbo “matheteúsate” -- “ide”, “batizando-os” e “ensinando-os”-- estão, de acordo com o original grego, na forma verbal gerúndio e sua função é qualificar a ação a que se refere o verbo principal -- “fazei discípulos”. O primeiro gerúndio (no grego) presente na frase é traduzido como “ide”, mas poderia ser traduzido como “marchem”, e não deve ser interpretado separadamente do mandamento central expresso pelo verbo no modo imperativo no grego. O que Jesus diz é: “Marchem: façam discípulos”. Os outros dois gerúndios respondem à pergunta: como se faz discípulos? A resposta é: “batizando-os e os ensinando”.

Concluindo, o foco da Grande Comissão não é outro senão o de “fazer discípulos de Jesus Cristo”. Esta é a missão que Jesus Cristo delegou à sua igreja, é a tarefa central da igreja até o fim do mundo. A conexão entre essa missão e o senhorio universal de Jesus Cristo é estabelecida por uma expressão que aparece logo no início do versículo 19: “portanto”. Em outras palavras, pelo fato de que Jesus Cristo é o Senhor de toda a criação e de todos os aspectos da vida humana, a igreja recebeu o mandamento de fazer discípulos, ou seja, pessoas que reconheçam esse senhorio e vivam de acordo com ele. Jesus Cristo é o Senhor de todos; portanto, todos devem reconhecê-lo como tal.

Se levarmos em conta que, durante seu ministério terreno, Jesus Cristo dedicou muito de seu tempo à formação de seus discípulos, torna-se evidente que a missão que ele confiou a seus discípulos pouco antes de sua ascensão é continuar o que ele mesmo fez com eles. A missão da igreja, representada pelo corpo apostólico, é o prolongamento da missão de Jesus Cristo, prolongamento este que se baseia em um discipulado missionário idealizado para continuar até o fim do mundo.

A esfera de ação do trabalho de fazer discípulos abarca “todas as nações”. E, visto que a autoridade de Jesus Cristo está presente “no céu e na terra”, a missão que ele delega a seus discípulos é igualmente global: tem de se estender a “todas as nações”.

Traduzido por Wagner Guimarães


• C. René Padilla é fundador e presidente da Rede Miqueias, e membro-fundador da Fraternidade Teológica Latino-Americana e da Fundação Kairós. É autor de O Que É Missão Integral? (Editora Ultimato).
De: Coluna - Missão Integral - Revista Ultimato - (On line em 20/08/2010)

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